Sai o emprego, fica a produção
A essência de derivadas e integrais é a noção de limite. Quando o limite tende ao infinito, ou a zero, inventamos a noção de derivadas e integral. Por exemplo, uma circunferência é um polígono com "infinitos" lados de comprimento tendendo a zero, cada um. No limite, com o número de lados tendendo ao infinito e o comprimento de cada lado tendendo a zero, temos uma circunferência perfeita.
Forcei a barra na matemática mas quis dizer algo mais simples, pensando melhor: é útil pensar o "exagero" — o limite — de uma situação, às vezes. Este é um bom exemplo. Para ajudar a entender "nosso inimigo", pode ser útil conhecer o "tamanho máximo", o limite, dele.
Qual o tamanho máximo do inimigo a automação que rouba empregos humanos?
Imagino que seu limite infinito, máximo, seja quando a automação teoricamente conseguir roubar todo e qualquer emprego humano.
Que raios aprendemos quando fazemos medições teóricas, até inatingíveis, como esta?
De cara aprendemos o tamanho máximo teórico: nenhum humano trabalhando, máquinas fazendo tudo.
Que fazer com este limite? Dançar com ele. Entrar na dança.
Morremos neste limite? Creio que não, ainda que seja uma boa pergunta. Este tipo de pergunta demonstra mais medo do interlocutor — nós, a humanidade — do que previsão sofisticada.
Máquinas trabalhando me parecem ter mais a ver com: alfaces sendo plantadas, nutridas, colhidas, distribuídas. Idem para carros Mercedes Benz. A matéria prima é produzida, agrupada, montada, distribuída. Também brinquedos. Outras comidas: ostras, bifes, ervilhas. Cobertores, roupas.
Onde está a morte humana neste limite, neste cenário máximo teórico?
Não na falta de produção.
Na distribuição? No terrível ditador que vai deixar todos fenescerem (terminará sozinho com dez loiras?)
Já sei: talvez na transição patética típica humana — com injustiças, mortes, desventuras?
Navegar no limite máximo "limpa" a mente da bagunça de pensar em cenários intermediários.
Não há resposta exata sobre o futuro, mas limpa a mente.
Pensar o cenário máximo simplifica mente. Não traz resposta exata, mas tira muita bagunça do caminho.
Ajuda, ao final de todo o pensamento, a entender o caminho que podemos estar percorrendo.
Belíssimo assunto, apaixonante, em minha particular opinião. Lindo debate, em andamento, longe do fim.
Inteligência artificial podemos colocar em um patamar ligeiramente — não muito — diferente de "automação". Claro, inteligência artificial sendo espécie do gênero mais abrangente, automação. Então podemos colocar "programar" como espécie diferente de automação em comparação com a espécie de automação que chamamos de inteligência artificial.
Agora sem mais delongas, olha que brilhante:
Inteligência artificial tira o emprego de quem?
Do próprio programador!
A inteligência artificial na verdade, então, tira o emprego de tudo que a automação já tira, só que também tira o emprego do próprio programador!
Inteligência artificial cada vez menos tem "ifs, loops, e um programador adicionado funções e códigos".
A inteligência artificial foi criada com esta linda capacidade: ela mesma aperfeiçoa suas "redes neurais".
Só precisamos de um "estagiário" — cada vez mais, realmente, só um estagiário sem experiência — para alimentar cada enorme, mas ainda virgem, rede neural, com dados, dados, mais dados e ainda mais dados.
Muitas gostam de receber dados com respostas corretas — vários dados — para se calibrarem. Mas fazem a calibração cada vez mais sozinhas. Estamos cada vez mais automatizado a própria calibragem de cada tipo de inteligência artificial.
Na verdade, em breve, nem "estagiário" será necessário. Bastará informar o objetivo (quais dados com quais respostas "engolir") que uma inteligência artificial saberá engolir novos dados e regurgitar respostas mais prováveis. Quando bem calibrada, informa mais de 90%, mais de 99% até, de chance de estar correta.
Por exemplo, esta imagem de pulmão possui câncer? 99% de acerto, mais precisa que o melhor médico. Etc.
Então nem programador sobra quando redes neurais aprendem a se calibrar sozinhas, bastando engolir dados — dados, aliás, que já estarão na nuvem, mesmo, ao lado dela. Nem estagiário "para inserir o disquete com dados" precisa mais.
É util ter "mantras", frases curtas, para nos ajudar a compreender novas situações.
Eu diria, sobre este fértil debate:
Os empregos podem até acabar ("empregos mudarem" me parece aquele eufemismo de mãe dizendo para filha grávida: "não dói nada o parto").
A diferença não está na finitude do emprego.
A diferença está na consequência.
Até 1900 acabar emprego era acabar produção.
Não é o que ocorre com a automação.
Acaba o emprego, fica a produção.
Bom mantra, este, aliás.
"Acaba o emprego, fica a produção".
O que fazer quando, ou se, ou durante a transição, em que "Acaba o emprego, fica a produção."?
"Acaba o emprego, fica a produção."
Ruim? Bom? Transição maluca? Corremos todos? Sofá e dor na coluna para todos? Quem ganha mais Mercedes Benz e alfaces automaticamente produzidas (portanto, sem emprego) do que outros?