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Oblivion

Vladimir Dietrich · April 27, 2020 ·8 min read

Se você não assistiu Oblivion nem toque neste post. Contará sobre o filme, chamam isto de spoiler. ♥️

Oblivion, o filme, permite algumas maneiras de ver. Mais provavelmente culpa de nosso olho, nem tanto do filme.

1. A cobertura envidraçada altíssima com piscina flutuante com chão de vidro não pode ter sido desenhada para ser "feia". Parece refletir um tipo de sonho humano.

2. Precisava embaixo desta "cobertura de sonho" haver desgraça? Meio ambiente "contaminado", seres "inferiores" vivendo na miséria caçados como rebeldes? Parece que sim.

Algum recado pode estar sendo passado.

3. A mulher não sai a campo. Fica em casa - "em segurança". Isto me lembra a preocupação com os "úteros das mulheres" antes da estreia da primeira locomotiva, que ia a deslumbrantes, para a época, 60km/h. A notícia é real, da época. Machismo subsiste, ainda, no filme.

Ainda estou assistindo.

Pelo que me recordo,

4. O amor salva tudo. 5. Vão viver no chão, com a natureza, com amor.

Neste sentido a cobertura e a esposa dentro parecem um relacionamento artificial. Precisava ser a cobertura mais "bonita" representando um relacionamento ruim? Talvez precisasse: compensar com uma grande obra o vazio. Algo nesta linha.

Dará para ir além.

A empresa - gigante - engana os "funcionários" sempre prometendo algo a poucas semanas dali. Depois repete o ciclo. Perpetua um "nada": a própria destruição e contaminação, a mesma, não sem ironia, que constrói a cobertura de sonho.

Vou publicando antes de terminar de assistir.

6. A lua destruída não deve ser apenas coadjuvante. Tiro longo: se a lua representar o amor, o amor foi destruído.

7. Após o onírico beijo embaixo da piscina, sua musa, como uma sereia, vai para baixo. É o amor chamando "para baixo da cobertura: para o chão".

8. A insistência no "são você e Jack um time eficaz?" não é coadjuvante. Um mantra corporativo, parece ser. Talvez a questão seja esconder o objetivo real por trás de tantas tarefas eficazes, não questionar a eficácia per se. Mas a eficácia parece um pouco robótica. Per se.

Ao chegar em seu esconderijo paraíso na terra, com plantas, água cristalina, peixe amigo, camisa de flanela, led zeppelin em vinil e quadra de basquete, a frase:

9. "Vou sentir saudades deste lugar". Quando o casal "terminar a missão". Esta talvez grande mensagem, será a maior? Chamo de paradoxo da tecnologia total, algo assim. Quando realmente tivermos fusão nuclear (nosso próprio sol, em qualquer lugar), dominarmos a química e a biologia, talvez - eu disse talvez - percebamos que só éramos amiguinhos do planeta enquanto ele "era maior que nós". Enquanto ele era um "útero". Se não precisarmos dele - mesmo que sempre com gentileza e agradecimento, com até saudades - não o relegaríamos a segundo plano como fazemos com piano e outras coisas antigas? Isto nos confronta com questão pesadíssima, que pergunta "se gostamos, realmente, da natureza?". O repelente para mosquitos é só uma dica, a resposta verdadeira, se um dia aparecer, é imensa.

10. "Teria sido ótimo", logo após "Vou sentir saudades deste lugar", questiona a tecnologia. A alquimia. Na verdade poderíamos voltar esta questão para antes da agricultura, quando ainda quasi-acasalávamos de tão relacionados que éramos com a natureza. "Antes de mordermos a maçã", experientes cientistas notam que a maçã mordida representaria esta cisão do homem com a vida na natureza (antes da agricultura de excedentes e religiões atuais).. "Teria sido ótimo" pode também apenas representar medo do novo. Simples assim: medo real. Vontade de voltar, antes e ao invés de mudar.

11. "Nosso trabalho não é lembrar..." "Lembra?". Esta frase interessantemente mostra que se deve lembrar apenas o que interessa. Não o passado mais distante. Talvez: a lavagem cerebral que empresariar pode trazer: lembre-se da nossa missão e valores (esqueça o resto).

12. "Não posso proteger você", diz a esposa e colega de trabalho quando Jack desce com sua musa. O medo de fugir às regras da empresa, ou um tipo de burocracia, sem margem para improvisações. Curiosamente o botão que desconecta e torna a missão "informal", "offline" é o único botão vermelho dentre todos brancos. Na guerra fria as coisas "ruins" eram vermelhas (em filmes americanos, ao menos). Portanto "estar online seria ruim (vermelho)". Ao desligar, apaga-se a luz vermelha. Informal com o amor, descem.

13. O medo de "o que tem lá embaixo" é sincero. A esposa na cobertura genuinamente se arrepia quando Jack está "lá embaixo". Talvez seria como "gente de bem" se arrepiando com o que acontece em ruas de periferia, em um Brasil. Mas esta analogia forcei.

14. O amor trespassa lavagens cerebrais de grandes corporações. Jack se lembra. Como neutrinos, como raio-x. O amor trespassa, imparável. É o regurgitar da maçã mordida, realmente ouso propor. Voltar à comunhão com a natureza. Abandonar a corporação. A tecnologia. Voltar para o útero do ponto de vista de DNA (mas não tão longe até o caldo bacterial, né? Até a era selvagem está bem).

Uau:

15. A esposa tecnológica - da cobertura - chora ao ver Jack com seu amor-musa. Através da lente da nave que vai (ia?) salvar Jack. "Salvar". O que é "salvar" começa a se solidificar. "Uau", porque seria interessante explicar o choro da esposa tecnológica, da cobertura envidraçada. O que ela quer? Instigante pensar.

16. Lutar contra nós mesmos é, realmente, a grande luta. O nós da cobertura envidraçada funcionário exemplar, o nós do amor - que redescobre a verdade, que através do amor penetra como neutrino na lavagem cerebral corporativa tecnólogica. Você e você. "Regurgitar" a mordida da maçã, no contexto deste filme. Redescobrir, ao invés de ser expulso, do paraíso. Largar a tecnologia. A eficácia. Largar a piscina de vidro sobre as nuvens. Parar de tratar os debaixo como mosquitos contagiosos. Na verdade, como se não fossem humanos (mas são!).

17. A esposa da torre 52 (Jack era da torre 49) não percebe a diferença entre os Jacks. Vou forçar: assim nos sentimos, um pouco, com os tratamentos automatizados em spams de email, por telefone, por mensagem. Tentam nos chamar pelo nome, mas mal sabem de nossa essência. Culpados? Ninguém.

18. Jack convida a esposa tecnológica da torre de vidro 52 para baixo. Ela genuinamente possui uma curiosidade, mas como na melhor produção iso-9000, com previsibilidade garantida rejeita e se sente desconfortável com o assunto. "É contra o regulamento". Sua lavagem cerebral foi com alvejante bem forte - ou não havia neutrino do amor. Volta para o quarto. "Segura".

Jack e sua musa vão para a casa no lago. Jack diz que é só uma cópia do verdadeiro Jack. A musa diz que Jack havia prometido uma casa no lago. Para engordarem e envelhecerem juntos.

19. O amor também poderia ser considerado uma máquina. Máquina de repetir: casa no lago, vinil dos anos 70, basquete, beisebol. Quem é mais legítimo? A automação via-amor, a automação via tecnologia. Sei lá!

20. Jack acalma a máquina. O drone caçador de humanos. "Oooouuu" - como se faria com um cavalo. E o drone agitado com a multidão em volta se acalma. Jack conserta e entende a fundo a tecnologia. É um técnico engenheiro. Mas não entendia intenções subjacentes. As pessoas no chão entendem.

21. O quadro da menina (cabelo igual da musa, portanto, a musa) se arrastando em direção à casa não pode ser apenas coadjuvante. "Voltar para casa". Para o paraíso. Regurgitar a maçã mordida. Sair da tecnologia, cujo vilão, nada por coincidência, se chama "tet" (quase "tec").

22. O beijo antes da missão kamikaze-mas-salvadora. O beijo. Saliva, sentimento. Não-tinder, não-whatsapp. Sujo, suado. Não tecnológico, sem vidro limpíssimo. Será que nosso "DNA" - ele mesmo, sim! - fala? Será que ele pode gritar mesmo sem cordas vocais? Será que pressente sua extinção? Sua mudança via crispr-cas9. Sua alteração. Videogames, cada vez menos suor - mesmo antes de mexer no DNA. Limpeza, distância. Natureza virando zoológico. Pode nosso DNA compreensivelmente espernear? "Não quero morrer", gritaria, talvez em forma de artes, já que atua sem cordas vocais? Note que mesmo que seja verdade - o DNA grite - não significa, ao menos não automaticamente, que esteja correto. Mais chance há de ser uma auto-preservação egoísta, ou seja, sem pensar no "próximo DNA" para o qual cederia sua existência. Fui longe, basta ignorar.

23. A gravação da missão original do Jack original. A máquina "tet" (tec!) usou a verdadeira chefe da missão da época para criar uma chefe clonada. Com os mesmos "bom dia", "que dia maravilhoso", "está tudo bem?" "Querido(a)". Tentamos "levar para o futuro" nossos melhores eus em: spams, atendentes virtuais, mensagens automatizadas. "Como você está, [seu nome]?". "Está tudo bem?".

23B. Tet (tec) é i-men-sa. Somos formiguinhas de pelúcia.

24. Tet (tec!) clona humanos como quem faz salsicha com porcos. Lado a lado, em escala industrial. Que significa?

25. Tet, a tecnologia, tem a essência - o olhar - vermelho. Novamente a guerra fria dando a dica sobre a real moral de tet (tec).

"O que Horácio disse foi: Como pode um homem morrer melhor / Que enfrentando adversidades / Pelas cinzas de seus ancestrais / E pelos templos de seus deuses".

26. Se isso não é nosso DNA tentando se comunicar, é quem? Um diretor de hollywood?

"Eu criei você Jack. Eu sou seu deus",

Tet, a tecnologia, responde. Jack nem dá bola.

Horácio, ao menos neste filme, fala mais forte.

Jack chama Tet (tec) de Sally. Sally é sabidamente uma modelagem tecnológica da verdadeira Sally do passado. Um vídeo. Photoshopado para falar outras coisas, com o mesmo rosto. Chamando tet (tec) de Sally, Jack nem hesita em tratá-la como um spam, ou seja: jogar uma bomba nuclear em seu coração.

"Se temos alma, Elas são feitas do amor que compartilhamos Undimmed by time Unbound by death". [Não acaba nem com tempo nem com a morte]

"Sou Jack Harper E estou em Casa".

Diz o Jack 52, não o 49. Um clone - um spam - pode substituir outro?

Filho de tet (tec), digamos assim. Muito-bem-clonado, o que muda?

O clone no paraíso com a musa. Clone e musa. Amor, ancestralidade.

Sei de nada.