Sentimento Digital
O banco digital substitui o banco físico. Meu medo é que o filtro do Instagram substitua salões de beleza.
Medo por quê? É porque realmente passaríamos a lotear e conviver no mundo virtual.
Mas persiste a pergunta: medo por quê?
Não há por que temer. Foi apenas o medinho de mudança.
O mundo físico possui suas âncoras: a pele (o toque). Até mesmo simuladores de montanha russa conseguem simular curvas e inclinações, mas não a força da gravidade extensa. E por aí vai.
Porém o mundo do prazer é gi-gan-te. E não há poucas maneiras virtuais de dançar com este mundo.
Mas pessoas, como eu, que não são criadas desde bem cedinho em certo mundo, tendem a ter dificuldade com mudanças, como virtualizar o real.
Não que já não esteja acontecendo, e muito.
Muita complexidade do fenômeno do prazer genital vem da cultura. Em redor do “ter filhos com quem"? Pouco sei, mas por aí.
A virtualização é poderosa com exemplos como estes:
O cara passa de Ferrari na avenida principal da cidade. O motor barulhento da Ferrari "balança os genitais" do cara para as gurias que sentirem atração neste processo de chave-fechadura. Balança poder aquisitivo, principalmente, mas também certa esportividade, a cor vermelha. Mais grana mesmo.
Isto é terrivelmente virtualizável. Tanto quanto bancos se tornaram digitais.
Para que queimar combustível com escapamento que amplifica? Há maneiras digitais de atingir o ponto g, ou s de $.
E o indivíduo que busca tchutchucas pelo som alto? Aquela velha estória: DJ grátis, muito bom não poderia ser, pois não seria de graça. Plenamente virtualizável. É possível conhecer a playlist inteira do indivíduo de maneira virtual. Com fones de ouvido de alta qualidade do outro lado da linha. Não seria mais necessário usar o ar como meio de locomoção.
Mais. Quem consegue espalhar mais o som do dinheiro (escapamentão de motão cara ou Ferrari) ou o gosto musical? A internet chega até Hong Kong. O mundo físico até os passantes até 500 metros de distância, apenas.
No comentário anterior, argumento que a dança do dinheiro ou do gosto musical, no contexto de "dormir com quem", é muito mais clara no mundo virtual que no mundo real. Basta ter, ou criar, ferramentas confiáveis, e sabemos fazer isto.
Chega de estalecas, grana, dinheiro.
E físico? Barriga tanquinho? Colágeno?
Esta etapa tem algo interessante:
Antes de mais nada, só interessa esta etapa se o casal quiser se tocar de verdade. No mundo real.
Caso contrário, quem se importa?
Talvez seja importante para "material genético". Mas para isso há bancos de óvulos e sêmen, com o DNA inteiro a disposição, já já se não hoje.
Vamos então supor que seja útil de alguma maneira descobrir se o cara é fitness? Viciado em saúde? Até que ponto? Para encontrar sua chave-fechadura.
Um aplicativo é mais preciso para mostrar: correu 100km em dez minutos. Foi até a Lua em 1 minuto. 5 vezes por semana. 1 vez por mês. Tanquinho pequeno, médio ou grande. Aplicativos confiáveis podem fornecer todo o exame de sangue, rins, fígado. DNA e doenças.
Quem quer olhar alguém correndo ou ajustando o biquini fio dental circundado por colágeno? Um pouco antiquado, frente às possibilidades digitais.
Talvez até nos sintamos desnudos, pois a hipocrisia do fingir não procurar, mas olhar, é um aconchego. Mas até isso dá para virtualizar: olhar anonimamente.
Dinheiro, gosto musical, colágeno, barriga tanquinho. Digitalizáveis!
Começa a sobrar menos danças do "dormir com quem".
Bom de papo?
Preciso argumentar que papo é plenamente digitalizável?
Já acontece. As novas preliminares são algumas semanas de whatsapp. Esquentando a dança do "vou ou não vou?"
Grana, música, colágeno, músculo, papo. Digitalizáveis!
E por aí vai. A complexidade que inventamos, culturalmente, para tornar complexo um prazer inicialmente tão simples, como entre outros, o prazer com órgãos genitais, é mais digitalizável do que pensamos, porque misturamos pele com cultura.
Cultura não é pele. A complexidade do sexo é cultural.
Cultura é digital. É informação. É expectativa. Números. Desempenho. Contas. Conversa.
Por isso. É que. Quando me refiro à pele. Estou sendo literal. Só sobra a pele. Mesmo. Do arsenal cultural que inventamos. Antes de unirmos duas pessoas.
Compreendo perfeitamente a poesia de que é exatamente o fato da mulher ter algo que eu não tenho, e desejo com grande intensidade, que faz eu valorizá-la mais do que ela valoriza a ela própria, pois ela, convivendo com seios, bumbum, colágenos, bafo, curvas, suavidade, dela mesma, precisaria de mim, distante, para perceber a importância de tudo aquilo que ela possui em sua rotina. E vice-versa! ❤️