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Aspirar o próprio rabo?

Vladimir Dietrich · September 24, 2021 ·2 min read

Vou misturar o conceito do cachorro que persegue o próprio rabo com o aspirador que se recarrega sozinho. Colocarei a humanidade no meio deste sanduíche. Será proveitoso?

Inicio com uma interpretação:

E se empresas, foguetes, novos produtos, fossem nosso jardim?

  • Que lindas flores. Lindas intenções plantamos. Sonhos.
  • Estamos fugindo de algo (inquietos)? Se sim, de quê?
  • Sobreviver. Passar de caça de 70kg a giga-caçador. Justifica?
  • Imaginemos por um segundo. Podemos?

    Todos nossos predadores estão extintos. De leões a vírus. O planeta segue funcionando. Sem catástrofe. Só há humanos - sem qualquer bicho que possa nos caçar. Apenas joaninhas, girafas, etc.

    Não nos vejo parando de jardinar empresas, foguetes, novos produtos. Só porque não precisamos mais nos defender de predadores.

    Você nos enxerga parando?

    Então fim do texto. Abraçamos joaninhas e girafas, sem foguetes. Na relva. É uma hipótese.

    Agora vamos supor que não paremos de “jardinar desenvolvimento". Mesmo sem predadores.

    Neste caso, poderíamos estar perseguindo "nosso próprio rabo".

    Seria uma maneira de enxergar. Se não há um objetivo de sobrevivência, resta o quê? Brincar. Estética.

    Como fazem alguns cachorrinhos.

    Jardinando um desenvolvimento sem-fim.

    Com alegria. Sem-fim.

    "Mas não temos rabo" para perseguir.

    "Temos o neocórtex". Um abraçador de complexidades. Enovelado.

    Enovelar-se talvez seja a finalidade.

    Aliás brincar e enovelar não são amigos?

    Um parágrafo um pouco mais chato, mas se você está no clima, aqui está.

    Talvez o enovelamento seja a própria luz, e é fácil tirar o ar filosófico desta frase (enovelamento/luz): se o neocórtex for nosso próprio rabo, um mega-enovelamento seria a grande distração.

    Aquilo que esconde, nos distrai, da simplicidade de perseguir um próprio rabo.

    Caso não houvesse o grande enovelamento para dar mistério e profundidade a nossas ações, talvez não nos entusiasmássemos para perseguir algo não tão profundo, como perseguir o próprio rabo.

    Perseguir o próprio rabo no sentido de que o faremos mesmo sem predadores.

    Como máquinas.

    Como aquele disco que aspira pó em sua sala, e recarrega sozinho.

    Mais complexo e "lindo" seríamos (?), mas não muito além disso.

    E mesmo que ninguém mais morasse na casa, se fosse um aspirador de pó programado para aspirar e recarregar e ainda estivesse funcionando, seguiria aspirando.

    Mesmo que não existisse mais ninguém no planeta interessado em menos pó.

    Seguiria o disquinho a aspirar.

    Com alegria: sim!

    De certa forma o aspirador de pó também não se deprime, persevera, "com alegria", por que não?

    Mas isto.

    Apenas uma tola hipótese ou maneira de observar. Que bom que esta maneira de enxergar deve estar errada, e deve mesmo. Mas precisava estar anotada. Vai que possa estar algo certa.

    O jardim é, de fato, "lindo", cabe observar. A estética está garantida. Tanto nas intenções quanto no design.